O autor Rodrigo Marcon relata sobre o recente lançamento de “O Antiquário”, processo criativo e seu desenvolvimento como escritor.

 

A lendária pistola Luger Parabellum em calibre .45 ACP é considerada uma das armas mais valiosas e raras do mundo, tão reconhecida internacionalmente que chegou a fazer uma “ponta” no filme “Wall Street – poder e cobiça” de 1987, do diretor Oliver Stone. No filme o personagem Gordon Gekko, interpretado por Michael Douglas, apresenta um exemplar desta arma a um rival nos negócios justamente como “a pistola mais rara do mundo”.

 

Em 1994, a Revista Magnum publicou uma reportagem exclusiva sobre a pistola Luger .45ACP, informando sua origem, história e raridade. É a partir desta matéria que o autor e Policial Federal Rodrigo Marcon iniciou o processo criativo do livro “O Antiquário” , lançado em 2024 pela Editora Flyve.

 

Ambientado na cidade de Lages, interior de Santa Catarina, o thriller dinâmico e envolvente, contempla a remota possibilidade de uma relíquia assim cair nas mãos de um antiquário recém-saído da prisão e à beira da falência. O protagonista mergulha em busca do paradeiro da arma enquanto tenta equilibrar sua vida de paixões conturbadas.

 

Com tensão e drama, e temas relacionados à vingança e redenção, assim como um sentimento profundo de perda e reparação, Rodrigo Marcon elucida emoções e reflexões humanamente vivenciadas sob a ótica de um protagonista/narrador pragmático, cético e ainda assim fascinante.

 

  • Você esperava essa grande repercussão positiva com o livro “O Antiquário”?

 

Eu reconheço que o escrevi para ser um livro dinamicamente comercial, claro que sem renunciar ao estilo que adoto. Trata-se de um livro que traz inúmeras referências do cinema, TV, cultura pop e literatura do final do século XX. Isso permite que o leitor se identifique com muita coisa, que sinta certa familiaridade ou mesmo nostalgia. Aliado a isso, eu acredito que a trama está bem amarrada, ela é capaz de instigar e manter a atenção do leitor na medida certa, provocando seu imaginário com ilações e possibilidades do que está por vir.

 

  • Como foi o processo de pesquisa e escrita para criar a trama?

 

Eu precisei ter muito cuidado com os aspectos técnicos e históricos explorados no livro, especialmente quanto a armas de fogo e a 2ª Guerra Mundial. São temas que demandaram bastante pesquisa e revisões apuradas, pois as pessoas afeitas e esses dois conteúdos costumam ser exigentes e preciosistas quanto às informações apresentadas. Com isso não quero dizer que foi um sacrifício escrever o livro, pelo contrário. Trata-se de uma história que foi maturada por muito tempo, baseada em uma matéria que eu havia lido na Revista Magnum, de 1994, um periódico nacional especializado em armas e temas correlatos. A matéria versava sobre uma pistola Luger em calibre .45ACP, arma essa extremamente rara, não havendo mais que três ou quatro exemplares devidamente autenticados no mundo todo segundo algumas fontes. Não obstante, ninguém sabe ao certo quantas delas foram de fato fabricadas. Com isso em mente, comecei a imaginar como um objeto desses poderia parar no Sul do Brasil, os caminhos que teria de percorrer e as pessoas envolvidas no processo, obviamente o livro traz muito mais coisa consigo, mas apenas esse mote já permite muita coisa com que instigar a curiosidade do leitor.

 

  • Quais os gêneros de sua preferência e os recursos que você mais gosta de utilizar em seus livros?

 

Acho que o drama envolvendo questionamentos morais e éticos, assim como a tensão e o suspense, usualmente encontrados nos “thrillers”, seriam os gêneros de minha predileção. Como iniciei com o conto, a aplicação desses modelos ocorre de maneira mais pontual, visto que no conto costuma haver um único clímax, já no desenlace final. Quanto a recursos técnicos, mesmo na narrativa curta, sempre gostei de usar a elipse, em momentos de grande intensidade, deixando que o próprio leitor preencha a lacuna entre o que foi indicado que irá acontecer e o resultado final.

 

  • O recurso elipse foi utilizado em “O Antiquário”?

Sim. Foi um método que tive a oportunidade de usar com certa desenvoltura em “O Antiquário”, visto que no romance/thriller há um número bem mais significativo de personagens, subtramas, locações e situações. Aliado a isso, gosto do modo com que o drama e a reflexão filosófica e social se misturam com as diversas formas de embate humano. Encontro algumas referências e influências neste sentido em autores como Cormac McCarthy, Dennis Lehane, Michel Houellebecq e Rubem Fonseca (especialmente sua obra publicada até 1997).

 

  • Quando você começou a perceber que gostaria de ser escritor?

Na tenra idade, visto que fui alfabetizado muito cedo. Estudei apenas um ano, durante o pré-primário, em um colégio particular Católico. Acabei me alfabetizando durante esse período graças à qualidade da instituição e ao estímulo de minha mãe.  Desde então a leitura passou a ser uma constante em minha vida, iniciando com livros infantis e histórias em quadrinhos. Antes de concluir o ensino elementar já havia passado em revista boa parte das obras dos irmãos Grimm, Monteiro Lobato e da Série Vaga-Lume.

Daí até começar a imaginar minhas próprias histórias foi um processo natural, ainda que bastante pueril. Com isso não quero dizer que tenha me saído bem nos estudos formais. A verdade é que, depois que aprendi a ler, a escola em si me desinteressou.

 

  • Em qual momento você começou a praticar a sua vocação na escrita?

 

Foi após uma reprovação no final do ensino fundamental que adotei um pouco mais de disciplina na escrita. Concluiu o  ensino médio em um curso supletivo e entrei na Universidade, no curso noturno de Ciências Sociais, já casado e com filhos.

Em 2002 tive um livro de contos contemplado em um edital do governo de Santa Catarina. A premiação permitiu bancar a edição do livro “Cinco Movimentos” e ainda sustentar a mim e a minha família durante os meses em que passei cursando da Academia da Polícia Civil de Santa Catarina – ACADEPOL, em Florianópolis.

Também participei de alguns concursos literários e publiquei em antologias, especialmente contos. Além disso, fiz alguns cursos de Formação de Escritores do SESC, um deles com Tabajara Ruas. Em 2013, ingressei na Polícia Federal e mudo com a família para o interior do Amazonas. Continuo escrevendo e em 2016, sou transferido para Passo Fundo/RS, onde escrevo o romance/thriller “O Antiquário”, publicado pelo selo VOE, da editora FLYVE, e lançado em outubro/2024.

 

  • A escrita para você é uma profissão e pretende seguir carreira?

 

Eu busco encarar como uma atividade paralela que levo muito a sério. Houve um momento na juventude, em que imaginei algo nesse sentido, uma profissão, um modo de viver da escrita. Mas o fato é que a realidade brasileira e o mercado nacional não permite isso. Não creio que haja mais de uma dúzia de pessoas no Brasil vivendo, com dignidade e conforto, exclusivamente da escrita ficcional.

Foi aí que optei pela atividade policial, primeiro porque sempre vi com certo romantismo a profissão e também por acreditar que esse trabalho seria um celeiro de ideias, histórias e personagens, o tempo mostrou que eu estava certo.

Agência: El Vine Assessoria Literária

Jornalista: Giúlia Santos

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