Uma rede gastronômica conhecida por suas sobremesas à base de abacate decidiu encerrar as operações de três de suas lojas localizadas em shoppings de Curitiba, decisão que reflete as dificuldades enfrentadas por empreendimentos especializados em nichos alimentares, especialmente em períodos instáveis para o varejo e o consumo fora de casa.
Localizadas em centros de grande fluxo de público, as lojas da rede eram reconhecidas por oferecer uma proposta inovadora: transformar o abacate — fruta tradicionalmente associada a pratos salgados — em sobremesas criativas, como cremes, mousses, sorvetes e outras variações doces. Desde a chegada da marca à capital paranaense, o conceito despertou curiosidade e curiosos, atraindo desde consumidores interessados em opções mais saudáveis até aqueles em busca de experiências gastronômicas diferenciadas.
A decisão de fechar as três unidades em shoppings, segundo apurado junto a clientes e profissionais próximos ao negócio, foi motivada por uma combinação de fatores econômicos e operacionais. A queda no movimento de consumidores em ambientes de shopping, o alto custo fixo das operações nesses espaços e a necessidade de adaptação a um perfil de público que ainda estava se familiarizando com o conceito de sobremesas de abacate pesaram na decisão.
Empresários do setor avaliam que a singularidade do produto, embora tenha gerado atenção inicial, não se traduziu em um volume de vendas consistente capaz de sustentar o modelo tradicional de loja física em locais com aluguel elevado. “Quando se trata de um nicho, existe uma curva de aprendizado com o público. É preciso tempo e investimento em educação do consumidor, e isso nem sempre casa com o ritmo de rentabilidade exigido por operações em shopping”, explica um consultor especializado em varejo alimentar.
Para muitos frequentadores que chegaram a experimentar os doces de abacate, o encerramento das lojas representa uma perda de diversidade no cenário gastronômico local. Consumidores relatam que a proposta era vista como uma opção refrescante e diferenciada, especialmente em refeições leves ou sobremesas após o almoço ou jantar. O sabor único e o apelo mais saudável também atraíam um público que buscava alternativas diferentes aos tradicionais doces açucarados.
Apesar do fechamento das unidades em shoppings, a rede tem sinalizado que busca alternativas para manter a presença na cidade por meio de outros formatos de ponto de venda. Entre as possibilidades em estudo estão a inauguração de quiosques em áreas de grande circulação, parcerias com cafés e empórios locais, além do fortalecimento de canais de venda online e delivery, estratégias que podem reduzir custos e alcançar um público mais amplo.
O encerramento das lojas físicas em shoppings também expôs a necessidade de adaptação rápida em um setor marcado por mudanças de comportamento do consumidor. A pandemia de Covid-19 alterou profundamente os padrões de consumo fora do lar, com uma migração significativa para delivery e experiências gastronômicas que valorizam conveniência e custo-benefício. Para negócios baseados em propostas diferenciadas, ajustar rapidamente modelos de operação é questão de sobrevivência.
Analistas de mercado observam que a consolidação de um novo produto no paladar do público — especialmente um que desafia tradições culinárias — exige não apenas qualidade e inovação, mas também investimento contínuo em marketing, educação do consumidor e flexibilidade para experimentar formatos comerciais adaptados às preferências locais.
Enquanto a marca reavalia sua estratégia em Curitiba, clientes expressam expectativa de que o conceito de sobremesas de abacate possa continuar acessível de outras maneiras. A reação dos consumidores — tanto nas redes sociais quanto em ambientes presenciais — indica que, embora as lojas fechadas não tenham alcançado a sustentabilidade desejada, o interesse por experiências gastronómicas ligadas a ingredientes saudáveis e inovadores persiste.
O caso das lojas que encerraram em Curitiba ilustra, portanto, um desafio maior do varejo alimentar especializado: equilibrar diferenciação e viabilidade económica em um ambiente competitivo e em constante transformação, onde hábitos de consumo e expectativas do público estão em contínua evolução. A trajetória da rede pode servir de aprendizado para outros empreendimentos que buscam introduzir conceitos inéditos em mercados tradicionais.